segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Doentes estão a chegar com diabetes muito descompensada

O presidente da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) advertiu, na semana passada, que estão a chegar às urgências dos hospitais pessoas com um ligeiro cansaço e uma diabetes “extremamente descompensada”, que normalmente corresponde a um diagnóstico de covid-19.

“Estas pessoas deveriam ter ido ao centro de saúde, deveriam ter sido logo encaminhadas no tratamento da diabetes, e provavelmente não teriam necessidade de internamento. Poderiam ter fi cado em casa com uma supervisão online ou telefónico por parte do médico”, adiantou à agência Lusa José Manuel Boavida, sublinhando que nestes casos “os médicos e enfermeiros são absolutamente necessários e imprescindíveis”.

Durante o período de quarentena obrigatória, estima-se que entre 10 a 20 mil pessoas não conseguiram ter acesso a um diagnóstico e intervenção precoces, que é aquilo que mais permite evitar complicações e internamentos.

“Muita gente ficou por diagnosticar, o que quer dizer que serão diagnosticados mais tarde, e provavelmente com sequelas maiores, com uma reversibilidade da compensação mais difícil, e provavelmente com uma evolução das complicações”, disse o especialista, na semana em que se assinalou o Dia Mundial da Diabetes (14 de Novembro).

 “Aumento das amputações”

José Manuel Boavida disse que estavam a diagnosticar, em média, 200 pessoas por dia, cerca de 60 mil pessoas por ano, e que “um arrastamento desta situação pode levar a uma complicação muito grande do atendimento destas pessoas”. “Se o pé diabético não é diagnosticado e tratado a tempo leva a um aumento das amputações”, advertiu. Em relação à retinopatia diabética, José Manuel Boavida disse que os rastreios que são feitos nos centros de saúde e na comunidade estão atrasados alguns estão mesmo suspensos. “Isto pode levar a um atraso do tratamento de situações oftalmológicas, um aumento da cegueira e da diminuição da visão”, alertou.

 Doença devastadora

 Já no que respeita ao rim e à nefropatia, o endocrinologista lembrou que a diabetes é a principal causa de insuficiência renal e que o relato que é feito pelos nefrologistas é que “durante os meses do primeiro surto praticamente não houve ninguém a entrar em diálise, o que quer dizer que depois na fase do desconfinamento entrou muito mais gente em diálise”.

“As consequências destes atrasos só se podem medir a médio prazo, disse, sublinhando que é preciso “estar com uma atenção muito grande para ver os impactos e as necessidades destas pessoas”.

Outro factor que preocupa a APDP “é o aumento da mortalidade” e a falta de esclarecimento sobre estes números, receando que “a diabetes seja uma das doenças que está por de trás deste aumento”.

Dados do INE divulgados a 30 de Outubro indicam que, desde o início da pandemia, em Março, ocorreram  mais 7.396 mortes do que a média do período homólogo dos cinco anos anteriores, sendo a covid-19 responsável por 27,5% destas mortes.

“A diabetes como doença silenciosa, é uma doença devastadora, porque ela, tal e qual como um tsunami, vai subindo lentamente e quando dispara ela tem uma ação catastrófica sobre a vida das pessoas”, rematou.

Dados do Observatório Nacional da Diabetes indicam que nos primeiros seis meses a hospitalização para a população diagnosticada com covid-19 foi de 14,5%, enquanto nas pessoas com diabetes essa percentagem subiu para 43,3%, o que corresponde a três vezes mais.

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