quarta-feira, 10 de julho de 2024

“Flixtrain”

 


Do mundo para Coimbra

(‘As Beiras’, edição de 10 de Julho de 2024)

Accra/Gana

João Quaresma

“Flixtrain”

Quem vive na região de Coimbra e viaja com frequência de avião depara-se constantemente com o problema de chegar a tempo e horas aos aeroportos de Lisboa ou do Porto, ou, inversamente, de regressar a casa, sem demorar tanto, como o voo que acabou de realizar.

Pessoalmente, prefiro utilizar o comboio em vez do autocarro, por uma questão de conforto. No entanto, é verdade que o risco de não apanhar o avião é maior quando se opta pelo comboio.

Desde que a empresa de viagens de autocarro, Flixbus, começou a operar no país, rapidamente conquistou uma quota de mercado considerável. Na minha opinião, isto deve-se a dois factores principais: preços de viagem altamente competitivos e pontualidade dos horários.

A entrada desta empresa privada no mercado teve como consequência imediata uma reacção da Rede Expressos, que aumentou as promoções nas viagens e uma maior oferta de horários. Outra consequência foi a redução do número de passageiros a utilizar o transporte ferroviário. Contudo, isso não surpreende. Nos últimos 11 anos, durante os quais viajei, frequentemente, na CP, perdi a conta às vezes em que se me depararam  comboios suprimidos, greves e atrasos significativos que me obrigaram a procurar alternativas de transporte.

O serviço da CP, globalmente, é mau. A comunicação com o passageiro é quase inexistente. Recentemente, ao viajar na Deutsche Bahn, de Leipzig para o aeroporto de Berlim, enfrentei um atraso de 25 minutos e tinha uma ligação em Berlim que estava em risco de perder. Recebi, imediatamente, um e-mail com alternativas de transporte disponíveis, indicando em que estação desembarcar e qual o comboio a apanhar. Com a CP, a única forma de saber os atrasos dos comboios é perguntando na bilheteira da estação.

É surreal que, em 2024, a CP ainda não disponha de uma secção, na sua App, onde se possa acompanhar os atrasos dos comboios em tempo real. Recentemente, um Intercidades, de Coimbra para Lisboa, teve um atraso de 40 minutos. O problema é que este atraso foi comunicado aos passageiros, através dos altifalantes da estação, de uma forma gradual, inicialmente, indicando um atraso de 6 minutos, que foi aumentando sem que se soubesse o atraso total do comboio. Quando perguntei à funcionária da bilheteira qual era o tempo de espera previsto, ela informou-me que o comboio chegaria em 10 minutos e pediu que não desse importância à informação sonora, já que era apenas uma gravação. Este tipo de situações é frequente quando se viaja no Intercidades.

Para mim, viajar de comboio em Portugal é como voltar aos anos 90: nunca sabemos se chegamos a horas ao nosso destino e o serviço é semelhante ao praticado há 30 anos.

Esperemos que uma qualquer “Flixtrain” entre no mercado ferroviário para a CP perceber que estamos em 2024.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Governo dá luz verde à Brisa para retirar portageiros das autoestradas

  A Brisa já pode retirar os portageiros nas autoestradas e substitui-los por máquinas que permitam o pagamento em dinheiro: o gabinete do...