quarta-feira, 6 de julho de 2022

Um carro elétrico não é mais ecológico do que um carro a gasolina


Neste momento temos carros elétricos que são um duplo problema: as baterias são um pesadelo ambiental a montante (minas) e a jusante (reciclagem), e ainda por cima são alimentadas por eletricidade produzida em centrais a carvão, que estão a voltar porque se diabolizou a energia mais limpa, segura e eficaz - a nuclear. Que sentido é que isto faz?

As modas que se julgam acima da crítica são um problema, porque impedem uma discussão séria, ponderada, sem pressa e baseada apenas em factos. A moda do carro elétrico enquanto panaceia é um exemplo deste problema do nosso espaço público.

Neste momento, um carro elétrico é mesmo mais ecológico do que um carro a gasolina? Não, não é, lamento, até porque o grau de perigosidade ambiental não pode ser reduzido a único item. Além das emissões de CO2 há outros problemas. A realidade nunca é unidimensional.

À partida, com os dois carros nos 0 km, o carro elétrico já tem uma pegada ecológica muito superior ao carro a gasolina convencional, porque a produção das tais baterias é um pesadelo ecológico que está a ser escondido, além de ser um escândalo humanitário. As minas de cobalto no Congo, por exemplo, são um desastre ambiental e um desastre humanitário pois são mantidas com trabalho infantil e/ou trabalho quase escravo. Quem se indignou com os diamantes de sangue não se pode calar perante este escândalo.

Mas, por ora, centremo-nos na tal mãe natureza. Gostava que me explicassem porque é que a destruição de solos e água provocada pelas baterias (quer na fase das minas para obtenção dos minérios, quer na fase da impossível reciclagem e da consequente lixeira) é menos grave do que a emissão de C02. Não é. É talvez pior. A obsessão unidimensional com o C02 e com o ar está a provocar aqui um esquecimento do que se passa com os solos e com a água. Repito: o que vamos fazer com tantas baterias velhas? Como é que vamos obter tanto minério para as mesmas?

Por outro lado, as baterias tiram-nos das mãos da Arábia e da Rússia (petróleo) mas colocam-nos nas mãos da China (maior produtora de cobalto, por larga distância).

E, já agora, se a ideia é caminharmos para a eletricidade, então temos de repensar as fontes da eletricidade, isto é, temos de repensar o nuclear. O movimento ecológico não pode querer uma coisa e o seu contrário. A energia nuclear, sobretudo os novos reatores, são fundamentais para termos eletricidade segura e barata. A saída da Alemanha do nuclear, por exemplo, não faz sentido. Para conseguirem lidar com o fim da energia russa, Alemanha e Áustria estão a voltar às centrais de carvão, que são as piores no sentido do C02. Portanto, neste momento temos carros elétricos que são um duplo problema: as baterias são um pesadelo ambiental a montante (minas) e a jusante (reciclagem), e ainda por cima são alimentadas por eletricidade produzida em centrais de carvão, que estão a voltar porque se diabolizou a energia mais limpa, segura e eficaz - a nuclear. Que sentido é que isto faz?

Dentro da mesma lógica, que sentido faz perseguir assim os carros do dia a dia das pessoas enquanto se mantém ou aumenta a pressão turística? Um paquete turístico atracado ali em Santa Apolónia emite mais C02 do que milhares e milhares de carros. O Expresso dizia há dias que os navios à volta da costa portuguesa são 84 vezes mais poluentes do que todos os carros de todas as grandes cidades portuguesas. E os aviões? A sociedade que se diz ambientalista e que persegue assim o instrumento central das famílias, o carro, não pode depois ser a sociedade da escapadinha do avião. O tráfego aéreo e marítimo polui muito mais do que os carros. Se é para cortar, então que se corte na sobremesa, o turismo, e não na fruta e na sopa, o dia a dia da família, o carro.

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