“Reduflação é o processo mediante o
qual os produtos diminuem de tamanho ou
quantidade, enquanto o preço se mantém inalterado ou regista um acréscimo.
Tal efeito é uma consequência do aumento do nível
geral dos preços dos bens, manifestado por unidade de peso ou volume, causado
por inúmeros factores, principalmente a perda do poder aquisitivo da moeda
e a queda do poder de compra dos
consumidores e/ou do aumento do
custo das matérias primas, cuja resposta da oferta é a redução do peso ou
tamanho dos bens transaccionados.
A expressão resulta de uma tradução literal do termo
‘shrinkflation’, um neologismo
inglês, cunhado por Pippa Malmgren e Brian Domitrovic, na obra editada em 2009
"Econoclasts: The Rebels Who Sparked the Supply-Side Revolution and
Restored American Prosperity" (lit. Econoclastas = Os Rebeldes que
despoletaram a revolução da Oferta e Restauraram a Prosperidade Americana), que
resulta da aglutinação de «shrink» 'reduzir, encolher' e «(in)flaction»
'(in)flação'.”
Sardi-Antasan alertava, há dias, num periódico europeu de grande
circulação, que nos tempos que correm a reduflação
(“shrinkflation”) parece haver assentado arraiais com ‘armas e bagagens’.
O fenómeno tem tido uma enorme repercussão na Grã-Bretanha em
consequência do Brexit, ao que afiançam outras fontes.
“Reduzir
quantidades sem diminuir preços na grande distribuição”: eis a receita
miraculosa dos capitães da indústria agro-alimentar
- repercutir (de modo discreto) o aumento dos custos das matérias-primas no
preço dos produtos.
Tal
inflação, dissimulada, revela-se algo complexa à luz do dia:
“É
muito difícil surpreender os produtores no acto porque há que lograr encontrar
o produto (o mesmo produto), no mesmo espaço físico, em espaços temporais
distintos: antes da operação de “maquilhagem” e após a operação de redução da
quantidade ou do volume.
“Nos
últimos dois anos, identificámos com sucesso dois casos do estilo, explica
Camille Dorioz, directora da campanha da Foodwatch.
“As
nossas armas? O nome e a exprobação (o vexame) nas redes sociais.
Produtores
e distribuidores, porém, vêm ‘sacudindo
a água do capote’.
A
indústria apresenta-se demasiado opaca. Portanto, de escassos dados de suporte se dispõe”. Em
particular porque a reduflação (“shrinkflation”)
não é ilegal, desde que haja de todo compatibilidade entre a composição do
produto e a rotulagem.”
Registe-se
que o álcool é o único produto cuja concentração por unidade é estritamente
regulamentada. Para evitar decepções, é preferível ‘monitorar’ os preços por
unidade de medida, parâmetro que muitos dos consumidores já vêm adoptando, para
além de se tornar imperioso despertar para eventuais mudanças susceptíveis de
ocorrer nas embalagens.
(Há
dias, no Mercado da Figueira da Foz, um dos comerciantes ali estabelecido fazia
passar por 1 Kg. 800 gramas de nozes pré-embaladas… com uma “destreza”
incalculável e com um enorme despudor, ignorando que havia ali, no espaço da
sua banca, duas ou três balanças de que os consumidores se poderiam socorrer
para a confirmação do peso…)
Camille
Dorioz chega a citar “uma das práticas mais tortuosas do marketing que consiste, aliás, em esperar que um produto fique bem
“preso” ao carrinho de compras do consumidor para se degradar a qualidade e /
ou jogar com a quantidade, paulatinamente. Um tal processo, fundado na
habituação e na “confiança no produto”, pode levar de 3 a 5 anos a maturar. Os
consumidores ficam naturalmente menos atentos e de todo sem reacção ao processo
‘degenerativo’ em curso!”.
“90%
dos produtos consumidos na Europa são importados. E quando não se ignora que
trazer um contentor de 40 ’ da Ásia custa quatro vezes mais do que há 18 meses,
cerca de US $ 15.000 (12 882€), a factura a pagar é elevada. Daí que atribuir
a 'encolha' (a redução) a uma resposta de curto ou a uma estratégia de longo
prazo dos industriais, seja algo difícil de dizer ”, comenta Arthur Barillas,
CEO da Oversea.
O
debate está, portanto, longe da sua conclusão.
Como
assevera Sardi-Antasan, as associações de interesse económico do agro-alimentar
não se pronunciam. Nanja as marcas. Nem sequer as empresas de pesquisa
especializadas, que para tanto não dispõem de dados: o que revela o quão
difícil é o fenómeno, longe de um consenso do ponto de vista científico.
Aos
consumidores uma recomendação: “gato
escaldado de água fria tem medo”!
Nada
nos diz que no que tange ao papel higiénico ou aos rolos de cozinha tal não
esteja já a ocorrer…
No Reddit há denúncias da redução no tamanho dos ‘cookies’ Pringles ou da embalagem do gel de banho da Dove…
Mário Frota
apDC – DIREITO DO CONSUMO -
Coimbra