Abraçou esta carreira, dando palestras e conferências a nível mundial, especialmente em Portugal e no Brasil, e dirigindo a associação que ajudou a fundar, a Associação Portuguesa de Direito do Consumo.
Mário Frota, tem 80 anos, e é a voz do programa “Direto ao Consumo, Informar para não Remediar”,
na Rádio Valor Local, todas as terças-feiras às 9h00, com repetições
durante a semana e ao fim de semana. Este é segundo nos conta, “um
espaço para a cidadania”, sentindo-se entusiasmado com este desafio
lançado pela nossa equipa.
Educar os cidadãos para os seus
direitos enquanto consumidores é o objetivo, já que, nas suas palavras,
“não somos um povo informado” suficientemente sobre estes assuntos. O
objetivo principal do programa é dar informação adequada ao dia-a-dia
das pessoas, para que possam usar estes conhecimentos, por exemplo,
legais, de forma prática e fácil. Citando um filósofo francês, Mário
Frota diz que: “O direito do consumo, das relações de consumo, o que
abrange uma parte significativa das atividades do dia, é o direito do
quotidiano.”
Explica que todos os dias nos nossos usos
quotidianos aplicamos uma série de regras de Direito, “desde o acender
da luz, ao fazer as rotinas matinais, como lavar os dentes, em que
estamos a iniciar um ato de consumo que tem implicações jurídicas, desde
o produtor, ao distribuidor e ao consumidor final”. O que acontece é
que “nem sempre sabemos como nos orientar no meio deste conjunto de
regras”. No programa descodificam-se as leis, para que as pessoas
percebam os seus direitos, e para isso responde-se também a perguntas
dos cidadãos.
Estes conhecimentos que transmite, resultam de
“anos de estudo e reflexão”. Mário Frota veio de África após o 25 de
Abril de 74, sendo que até essa altura não pôde frequentar a
universidade. Constituiu a sua família, e permaneceu em Angola porque
não teve a “oportunidade de vir estudar para a metrópole, à semelhança
de outros.” Foi professor de Educação Física do ensino secundário, até
que foi para Coimbra estudar Direito. Fez a licenciatura e mestrado, e
seguiu para Lausanne e Montpellier para o doutoramento. Foi docente das
faculdades de Direito das universidades de Lisboa e de Coimbra,
lecionando cadeiras no Direito Civil e Processual Civil, sempre
demonstrando um interesse “enorme” sobre contratos e nomeadamente
contratos de adesão. Conta-nos que começou “tarde”, no entanto, tem uma
carreira invejável, que não tem fim à vista, pelo menos por sua
vontade.
Lamenta que não haja na televisão e na rádio públicas
“um espaço com este sentido e alcance” como é o caso da Rádio Valor
Local, pioneira neste âmbito. Mário Frota já recebeu pedidos de
esclarecimento de ouvintes na região, no país e no estrangeiro no seu
espaço na nossa rádio.
Conta-nos que “25 anos depois de a lei
ter entrado em vigor, não há um espaço de informação ao consumidor nos
canais do Estado”. Mário Frota também lamenta que esta temática não seja
abordada nas escolas, já que seria de grande utilidade na formação dos
futuros cidadãos. Conta-nos que antes da Revolução, a ideia de que se
podia reclamar dos serviços não existia, até porque se pensava que estes
eram uma benesse pública, quando de facto, as pessoas pagavam por eles.
Recorda-se que “quando o salário mínimo era de 30 contos, a EDP
apresentava contas de luz na ordem dos 90 contos, por estimativa”. Para
si, não há mercado sem consumidores “combativos” sendo que o “consumidor
é rei” quando sabe fazer valer-se dos seus direitos. Lembra-se que
quando as empresas passaram do Estado para os privados, deu-se também
uma revolução, e as relações de consumo passaram a mudar.
Mas
Mário Frota não é um apologista do consumo pois acredita que “é possível
viver com menos”, mesmo nos tempos atuais, e em breve isso será mesmo
“necessário”, “pois estamos a consumir mais recursos do planeta do que
aqueles que este consegue prover”. Podemos “viver uma vida mais
autêntica”, renunciar ao consumo excessivo, e “podemos ser felizes
assim”. Argumenta que hoje em dia as pessoas estão sobreendividadas,
porque que se permitiu que isto acontecesse e que nos seus tempos de
jovem se vivia com o que se tinha. Ainda relativamente às alterações
climáticas, à obsolescência programada (decisão do produtor de
propositadamente desenvolver, fabricar, distribuir e vender um produto
para consumo de forma que se torne obsoleto ou não funcional
especificamente para forçar o consumidor a comprar a nova geração do
produto), e ao consumo intensivo de plástico, sugere que os clientes das
empresas reclamem, pois tudo isso está previsto na lei.
É por
vocação e convicção que abraçou esta carreira, dando palestras e
conferências a nível mundial sobre este tema, especialmente em Portugal e
no Brasil, e dirigindo a associação que ajudou a fundar, a Associação
Portuguesa de Direito do Consumo.
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