Origens
O termo ou, com
maior propriedade, a expressão "economia
de partilha" apareceu, pela vez primeira, ao que se afirma, durante a
Grande Depressão, permitindo o desenvolvimento de tecnologias sociais e um
crescente sentido de urgência em torno do crescimento populacional global e do
esgotamento de recursos.
Lawrence Lessig
foi possivelmente o primeiro a usar a expressão em 2008, conquanto haja quem
afirme que a origem da expressão seja desconhecida.
Dariusz Jemielniak
e Aleksandra Przegalinska creditam ao artigo académico de Marcus Felson e Joe
L. Spaeth, "Community
Structure and Collaborative Consumption" publicado em 1978, a cunhagem
da expressão ‘economia de partilha’.
Definição
e conceitos relacionados
Há uma confusão
conceitual e semântica causada pelas muitas facetas da partilha baseada na
Internet, levando a discussões sobre os limites e o escopo da economia
partilhada e sobre a sua definição.
Arun
Sundararajan observou em 2016 que "não tem conhecimento
de qualquer consenso sobre uma definição de economia partilhada".
Em 2015, de acordo
com uma pesquisa do Pew Research Center, apenas 27% dos americanos tinham
ouvido falar de "economia partilhada".
Os entrevistados
nos trabalhos da investigação encetados que de uma tal expressão tinham ouvido
falar, manifestavam opiniões divergentes sobre o que significava, pensando
muitos que se tratava de simples actos de "partilhar" no sentido
tradicional do termo.
A expressão "economia
de partilha" é frequentemente usada de forma ambígua e pode
implicar características diferentes. Por exemplo, a economia de partilha, por vezes, é entendida exclusivamente como um
fenómeno peer-to-peer, enquanto, noutras vezes, se enquadre como um
fenómeno business-to-customer (B2C).
Além disso, a economia partilhada pode
ser entendida como abrangendo transacções com transferência permanente de
propriedade de um recurso, como uma venda, enquanto outras vezes, transacções
com transferência de propriedade se considerem além dos limites da economia
de partilha.
Uma definição da economia
partilhada, desenvolvida para integrar os entendimentos e definições
existentes, com base em uma revisão sistemática, é:
"a
economia de partilha é um modelo ponto a ponto facilitado por TIC para partilha
comercial ou não comercial de bens subutilizados e capacidade de serviço por
meio de um intermediário sem transferência de propriedade."
O fenómeno foi definido
em acepção legal como "uma estrutura jurídica triangular com fins
lucrativos, onde duas partes (Fornecedores e Utilizadores) celebram contratos
vinculativos para o fornecimento de bens (transferência parcial do pacote de
direitos patrimoniais) ou serviços (serviços ad hoc ou ocasionais) em
troca de um pagamento em dinheiro através de uma plataforma online
operada por um terceiro (Operador de Plataforma) com um papel activo na
definição e desenvolvimento das condições legais em que os bens e serviços são
fornecidos."
Nessa definição, a "Economia Partilhada"
é uma estrutura jurídica triangular com três actores jurídicos diferentes:
"1. um
Operador de Plataforma que, usando tecnologia, fornece agregação e interactividade
para criar um ambiente jurídico, definindo os termos e condições para todos os actores;
2. um Usuário que
consuma o bem ou serviço nos termos e condições estabelecidos pelo Operador da
Plataforma; e
3. um Fornecedor que dispense um bem ou
serviço também sob a responsabilidade do Operador da Plataforma, termos e
condições."
Embora a expressão
economia partilhada (os brasileiros
designam-na por economia compartilhada) seja a
mais usada, também é conhecida como ‘economia de acesso’, ‘capitalismo
baseado em multidões’ (capitalismo de massa(?), economia colaborativa, economia
baseada na comunidade, economia gig, [economia entre pares,
peer-to-peer (P2P)], economia de plataforma, economia de aluguer e economia sob
demanda, às vezes algumas dessas expressões foram definidas como tópicos
separados se relacionados.
A noção de "economia partilhada" tem sido
frequentemente considerada um oxímoro e um expressão imprópria
para trocas comerciais reais. Arnould e Rose propuseram substituir o termo
enganoso "partilhar, compartilhar" por mutualidade. Em um artigo na
Harvard Business Review, as autoras Giana M. Eckhardt e Fleura Bardhi sustentam
que "economia partilhada" é expressão imprópria, e que o correcto seria
cognominar essa actividade por “economia de acesso”. Os autores dizem:
"Quando 'compartilhar' é mediado pelo mercado - quando uma empresa é
intermediária entre consumidores que não se conhecem - já não há mais partilha.
Em vez disso, os consumidores pagam para
aceder aos bens ou serviços de outra pessoa. ."
No artigo afirma-se que empresas (como a Uber)
que entendem isso, e cujo marketing destaca os benefícios financeiros
para os participantes, são bem-sucedidas, enquanto outras empresas (como Lyft),
cujo marketing destaca os benefícios sociais do serviço são
menos bem sucedidas. Segundo George Ritzer, tal tendência de aumento da
participação do consumidor nas trocas comerciais remete à noção de prossumo, que, como tal, não é
inovadora (no prossumo, o consumidor também veste os trajos do produtor ou do
fornecedor…).
Jemielniak e Przegalinska observam que a
expressão ‘economia partilhada’ é frequentemente usada para discutir
aspectos da sociedade que não se relacionam predominantemente com a economia e propõem um termo mais amplo
de sociedade
colaborativa para tais fenómenos.
A expressão "capitalismo de plataforma" foi
proposta por alguns estudiosos como mais correcto do que "economia partilhada" na discussão
de actividades de empresas com fins lucrativos como a Uber e a Airbnb no sector
económico. Empresas que tendem a um enfoque na justiça e na partilha,
em vez de visarem apenas o lucro, são muito menos comuns e têm sido descritas
de forma contrastante como ‘cooperativas de plataforma’ (ou plataformas cooperativistas versus plataformas capitalistas). Por sua vez, projectos como a Wikipedia,
que dependem do trabalho não remunerado de voluntários, podem ser classificados
como iniciativas de produção por pares baseadas em bens comuns. Numa tal
dimensão emerge a preocupação de saber se os usuários estão focados na partilha
sem fins lucrativos ou intentam maximizar seu próprio lucro. A partilha
é um modelo que se vem
adaptando à
abundância de recursos,
enquanto o ‘capitalismo de plataforma’
com fins lucrativos é um modelo que persiste em áreas onde ainda há escassez de
recursos.
Yochai Benkler, um
dos primeiros proponentes do software de código aberto, que
estudou a tragédia dos comuns, que se refere à ideia de que quando todos agimos
apenas em nosso próprio interesse, esgotamos os recursos compartilhados de que
precisamos para a nossa própria qualidade de vida, postulou que a tecnologia de
rede poderia mitigar esse problema por meio do que ele chamou de 'produção
de pares baseada em bens comuns', um conceito articulado pela primeira
vez em 2002.
Benkler estendeu então essa análise aos
"bens compartilháveis" em Sharing Nicely:” On Shareable Goods” e o
surgimento da partilha como uma
modalidade de produção económica, escrito em 2004.[27]
Actores
da economia partilhada ou de partilha
Há uma ampla gama
de actores que participam da economia de partilha. Neles se
incluem consumidores individuais, empresas de escopo egoístico (que visam o
lucro), empresas da economia social ou do sector cooperativo, empresas de
plataforma digital, comunidades locais, instituições sem fins lucrativos e o sector
público (administração pública) e os governos. Os usuários individuais são os actores
envolvidos na partilha de bens e recursos por meio de "transacções
peer-to-peer (P2P) ou business-to-peer (B2P)". As
empresas com fins lucrativos são os actores que buscam proveitos: que compram,
vendem, emprestam, alugam ou negoceiam com o uso de plataformas digitais como
meio de colaboração com outros actores. Os empreendimentos sociais ou as
denominadas empresas do sector cooperativo são principalmente “motivados por
razões sociais ou ecológicas” e buscam capacitar os actores como meio de
partilha genuíno. As plataformas digitais são empresas de tecnologia que
facilitam o relacionamento entre as partes transaccionais e obtêm lucros ao
cobrarem comissões sobre as transacções efectuadas. As comunidades locais são
os actores a nível local com estruturas e modelos de partilha variados onde a
maioria das actividades não são susceptíveis de conversão em dinheiro e muitas
vezes se operam para desenvolver ainda mais a comunidade. As empresas sem fins
lucrativos têm o propósito de "avançar uma missão ou propósito" para
uma causa maior e esta é a sua principal motivação, a saber, a partilha genuína
de recursos. Além disso, o sector público ou o governo pode participar da economia de partilha “usando infra-estruturas
públicas para apoiar ou forjar parcerias com outros actores e promover formas
inovadoras de partilha”
Dimensão
comercial
Lizzie
Richardson observou que a “economia da partilha”
"constitui um aparente paradoxo, já por se enquadrar na economia capitalista já por se pretender tornar-se como uma alternativa".
Uma distinção pode ser feita entre a partilha
gratuita, como partilha genuína, e a partilha
com fins lucrativos, geralmente associada a empresas como a Uber,
a Airbnb
e a
Taskrabbit. Co-opções
comerciais da 'economia de partilha'
abrangem uma ampla gama de estruturas, incluindo principalmente as de escopo
lucrativo e, em menor grau, as estruturas cooperativas.
A ‘economia de partilha’ oferece acesso
expandido a produtos, serviços e talentos além da propriedade individual ou
singular, que às vezes é designada como "despropriedade". Os indivíduos participam activamente como
utentes, fornecedores, credores ou mutuários em esquemas de intercâmbio entre
pares variados e em evolução.
O uso do termo
partilha por empresas com fins lucrativos tem sido descrito como notório "abuso" e recriminável "uso
indevido" de um tal termo, ou, mais precisamente, a sua mercantilização.
Em aplicações comerciais, a ‘economia
partilhada’ pode ser considerada uma estratégia de marketing
mais do que um ethos real de 'economia
partilhada'; por exemplo, a empresa Airbnb, às vezes, é
descrita como uma plataforma para os indivíduos 'compartilharem' espaço extra em suas
casas, mas na realidade o espaço é arrendado, na correcta expressão do termo, que
não compartilhado.
Além disso, as
listagens do Airbnb são geralmente da titularidade de empresas de gestão de
propriedades. Isso levou a uma série de controvérsias judiciais, com algumas
jurisdições determinando, por exemplo, que a partilha de transporte (a boleia?),
por meio de serviços com fins lucrativos, como a Uber, torna de facto os motoristas indistinguíveis de trabalhadores
regulares de empresas de partilha de viagens. semelhante ao modelo praticado
por várias das maiores plataformas de economia de partilha, que facilitam e
tratam da contratação e pagamentos em nome de seus assinantes, o que reforça
ainda mais a ênfase no acesso e transacção em vez da partilha.
A partilha
de recursos é conhecida em business-to-business
(B2B), como a da maquinaria pesada na agricultura e na silvicultura, bem como
em business-to-consumer
(B2C), como uma qualquer lavandaria self-service.
Mas três grandes impulsionadores permitem a
partilha de recursos de consumidor para consumidor (C2C) para uma ampla
variedade de novos bens e serviços, bem como novos sectores.
Primeiro, o
comportamento do cliente para muitos bens e serviços muda de propriedade para
partilha. Em segundo lugar, as redes sociais online e os mercados electrónicos
ligam mais facilmente os consumidores. E em terceiro, dispositivos móveis e
serviços electrónicos tornam o uso de bens e serviços partilhados mais
conveniente.
(Fontes: várias)