Só agora a comunicação
social, que ignorou as nossas tomadas de posição no último semestre de 2021,
“descobriu” a reduflação e se
espraiou em considerações sobre o tão decantado fenómeno da redução
do produto e da
manutenção do preço…
Com efeito, como sempre,
numa porta está o “ramo” e na outra se vende o “vinho”… Velho aforismo popular
que serve à maravilha!
O que quer significar que
há quem se aproveite das ideias dos outros para “vender o seu produto” e disso
tirar vantagens em detrimento do “concorrente”!
Eis, entre outros, o
artigo que a 28 de Outubro de 2021, um dia antes de deixarmos a presidência da
apDC, démos à estampa num dos diários de Coimbra e bem assim os comunicados,
sem qualquer repercussão, que difundíramos com exemplos e remetemos, aliás, sem
saber, entretanto, das consequências, à Autoridade de Segurança Alimentar e do
Mercado…
Eis o texto:
“Reduflação é o processo
mediante o qual os produtos diminuem de tamanho ou quantidade, enquanto o preço
se mantém inalterado ou regista um acréscimo.
Tal efeito é uma
consequência do aumento do nível geral dos preços dos bens, manifestado por
unidade de peso ou volume, causado por inúmeros factores, principalmente a
perda do poder aquisitivo da moeda e a queda do poder de compra dos
consumidores e/ou do aumento do custo das matérias primas, cuja resposta da oferta
é a redução do peso ou tamanho dos bens transaccionados.
A expressão resulta de
uma tradução literal do termo ‘shrinkflation’, um neologismo inglês, cunhado
por Pippa Malmgren e Brian Domitrovic, na obra editada em 2009 “Econoclasts:
The Rebels Who Sparked the Supply-Side Revolution and Restored American
Prosperity” (lit. Econoclastas = Os Rebeldes que despoletaram a revolução da
Oferta e Restauraram a Prosperidade Americana), que resulta da aglutinação de
«shrink» ‘reduzir, encolher’ e «(in)flaction» ‘(in)flação’.”
Sardi-Antasan alertava,
há dias, num periódico europeu de grande circulação, que nos tempos que correm
a reduflação (“shrinkflation”)
parece haver assentado arraiais com ‘armas e bagagens’.
O fenómeno tem tido uma
enorme repercussão na Grã-Bretanha em consequência do Brexit, ao que afiançam
outras fontes.
“Reduzir quantidades sem
diminuir preços na grande distribuição”: eis a receita miraculosa dos capitães
da indústria agro-alimentar – repercutir (de modo discreto) o aumento dos
custos das matérias-primas no preço dos produtos.
Tal inflação,
dissimulada, revela-se algo complexa à luz do dia:
“É muito difícil
surpreender os produtores no acto porque há que lograr encontrar o produto (o
mesmo produto), no mesmo espaço físico, em espaços temporais distintos: antes
da operação de “maquilhagem” e após a operação de redução da quantidade ou do
volume.
“Nos últimos dois anos,
identificámos com sucesso dois casos do estilo, explica Camille Dorioz,
directora da campanha da Foodwatch.
“As nossas armas? O nome
e a exprobação (o vexame) nas redes sociais.
Produtores e
distribuidores, porém, vêm ‘sacudindo a água do capote’.
A indústria apresenta-se
demasiado opaca. Portanto, de escassos dados de suporte se dispõe”. Em
particular porque a
reduflação (“shrinkflation”) não é ilegal, desde que haja de
todo compatibilidade entre a composição do produto e a rotulagem.”
Registe-se que o álcool é
o único produto cuja concentração por unidade é estritamente regulamentada.
Para evitar decepções, é preferível ‘monitorar’ os preços por unidade de
medida, parâmetro que muitos dos consumidores já vêm adoptando, para além de se
tornar imperioso despertar para eventuais mudanças susceptíveis de ocorrer nas
embalagens.
(Há dias, no Mercado da
Figueira da Foz, um dos comerciantes ali estabelecido fazia passar por 1 Kg.
800 gramas de nozes pré-embaladas… com uma “destreza” incalculável e com um
enorme despudor, ignorando que havia ali, no espaço da sua banca, duas ou três
balanças de que os consumidores se poderiam socorrer para a confirmação do
peso…)!
Camille Dorioz chega a
citar “uma das práticas mais tortuosas do marketing que consiste, aliás, em
esperar que um produto fique bem “preso” ao carrinho de compras do consumidor
para se degradar a qualidade e / ou jogar com a quantidade, paulatinamente. Um
tal processo, fundado na habituação e na “confiança no produto”, pode levar de
3 a 5 anos a maturar. Os consumidores ficam naturalmente menos atentos e de
todo sem reacção ao processo ‘degenerativo’ em curso!”.
“90% dos produtos
consumidos na Europa são importados. E quando não se ignora que trazer um
contentor de 40 ’ da Ásia custa quatro vezes mais do que há 18 meses, cerca de
US $ 15.000 ( 12 882€), a factura a pagar é elevada. Daí que atribuir a
‘encolha’ (a redução) a uma resposta de curto ou a uma estratégia de longo
prazo dos industriais, seja algo difícil de dizer ”, comenta Arthur Barillas,
CEO da Oversea.
O debate está, portanto,
longe da sua conclusão.
Como assevera
Sardi-Antasan, as associações de interesse económico do agro-alimentar não se
pronunciam. Nanja as marcas. Nem sequer as empresas de pesquisa especializadas,
que para tanto não dispõem de dados: o que revela o quão difícil é o fenómeno,
longe de um consenso do ponto de vista científico. Aos consumidores uma
recomendação: “gato escaldado de água fria tem medo”!
Nada nos diz que no que
tange ao papel higiénico ou aos rolos de cozinha tal não esteja já a ocorrer…
No Reddit há denúncias da
redução no tamanho dos ‘cookies’ Pringles ou da embalagem do gel de banho da
Dove…”
Pois este alerta “ficou
no tinteiro”, caiu em saco roto e só agora a comunicação social desperta para o
fenómeno…
Mas um conselho: não
percam tempo”! Se detectarem casos destes, vão directamente à ASAE… É que a
Deco não é nenhuma inspecção dos mercados nem autoridade dotada de fé pública. E
está ligada a uma central de interesses
belgas que, para além do mais, explora a ingenuidade dos consumidores
portugueses e lhes trata da saúde, vende-lhe colchões macios com nome de
avestruz, adormece-os com os vinhos das suas prateleiras e ainda lhes concede
cartões de crédito, sabe-se lá se mediante contratos pejados de cláusulas
abusivas! Ah! E também lhes impinge seguros de saúde! Como vê, sempre a
tratar-lhes da saúde! Não tarda, estará também ligada a uma das fileiras dos
produtos milagrosos tipo - “Cogumelo da Chuva” (que os há já do Sol e do Tempo,
no Brasil e em Portugal)!
E já tomou conta dos
condomínios: os condóminos já ali têm ficha, sob controlo belga…
Uma advertência para os
mais distraídos: ainda não vende vinho a copo… Mas não tardará decerto, dada a
saída para esquecer das amarguras do quotidiano!
Mário Frota
Presidente emérito
da apDC - Direito do Consumo - Coimbra